Explore os temas

Ou navegue pelas páginas

Dom Paulo Evaristo Arns em evento na PUC
Dom Paulo Evaristo Arns em evento na PUC. Líder do projeto Brasil, Nunca Mais, Dom Paulo Evaristo Arns foi baluarte da defesa dos direitos humanos.

Justiça social e direitos humanos

Justiça social e direitos humanos

As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que existem até hoje, ganharam força a partir dos anos 1970. Elas abrangiam grupos reunidos em torno de uma paróquia ou comunidade, que buscavam soluções para problemas comuns, normalmente vinculados a algum tipo de carência.

Tinham como base ideológica a Teologia de Libertação, corrente da Igreja Católica que fazia uma leitura politizada dos evangelhos, defendendo a opção preferencial pelos pobres e a superação da pobreza estrutural por meio de transformações econômicas e políticas. O maior pensador e representante da Teologia da Libertação no Brasil era Leonardo Boff.

O teólogo Leonardo Boff.
O teólogo Leonardo Boff. Foi imposto a Boff, um dos principais teólogos da Teologia da Libertação na América Latina, um período de silêncio obsequioso. Na época, o Cardeal Ratzinger (futuro Papa Bento XVI) foi o responsável pela medida.

Os participantes das CEBs, por meio da metodologia de discussão sintetizada na expressão “ver-julgar-agir”, tomavam consciência da situação social e política do país sob a ditadura. Em São Paulo, por exemplo, incentivaram a criação do Movimento de Luta contra a Carestia. No campo, essas organizações contribuíram para o aumento da conscientização dos trabalhadores, processo que culminou na criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em 1975.

“A inflação subiu muito e as pessoas não conseguiam mais comprar comida”, conta Rosane Vianna, quando lembra do seu envolvimento no Movimento Contra Carestia, que foi “basicamente tocado por mulheres pobres”, criado em 1972 dentro das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica.

Algumas autoridades eclesiásticas se destacaram por sua luta pelos direitos humanos durante a ditadura militar. Uma delas foi dom Helder Câmara, nomeado arcebispo de Olinda e Recife poucos dias antes do golpe militar. Alguns dias depois, divulgou um manifesto em apoio à Ação Católica Operária no Recife. Em 1969, um de seus assessores, o padre Antônio Henrique Pereira Neto, foi sequestrado e assassinado por paramilitares de direita. Em 1970, em Paris, foi a primeira figura pública a denunciar no exterior a tortura a presos políticos no Brasil.

Outra autoridade religiosa de destaque na defesa dos direitos humanos foi o cardeal arcebispo de São Paulo dom Paulo Evaristo Arns, que costumava receber vítimas da repressão e intervir por elas. Em 1972, foi responsável pelo surgimento da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, entidade que fornecia assistência aos presos políticos e denunciava publicamente as violações cometidas pelo regime. Dom Paulo foi personagem determinante no processo de abertura política: realizou na Catedral da Sé a missa pela morte de Alexandre Vannucchi Leme, e, em 1975, o ato ecumênico em homenagem a Vladimir Herzog, ambos mortos nas dependências do Estado. Também se posicionou claramente contra a invasão da PUC em 1977. Acolheu a manifestação do Movimento de Custo de Vida, tornando mais delicado para a polícia militar agir com violência.

Dom Paulo Evaristo Arns
Dom Paulo Evaristo Arns é reconhecido como um dos organizadores do dossiê “Brasil: nunca mais”.

Dom Paulo também é reconhecido como um dos organizadores do dossiê “Brasil: nunca mais”, documento que reúne informações detalhadas sobre os abusos cometidos pelos militares contra os presos políticos.

Em 1977, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) efetivou uma ruptura institucional com o regime militar, publicando o documento “Exigências Cristãs de uma Ordem Política”. Nele, reafirmava a luta por democracia, justiça social e direitos humanos como os fundamentos da crítica católica à ditadura.

Casos de apoio e resistência à ditadura ocorreram também em algumas igrejas evangélicas e se tornaram públicos em 2011, com a divulgação de documentos coletados pelo Projeto Brasil: Nunca Mais que haviam sido enviados ao Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra, na Suíça, e para o Center for Research Libraries, em Chicago, Estados Unidos, para evitar sua destruição no Brasil. O material revela que, enquanto nos templos autoridades religiosas conservadoras pregavam o discurso anticomunista, jovens batistas, metodistas e presbiterianos eram duramente reprimidos pelo regime.

Sobre
Saiba mais sobre o projeto, realizadores e seus objetivos.
Apoio ao Educador
Aplique o conteúdo sobre a ditadura no Brasil na sala de aula para ampliar o estudo da História do Brasil e a formação da cidadania com o suporte de sequências didáticas e a promoção do protagonismo dos alunos. Consulte sequências didáticas que poderão auxiliar os educadores a trabalharem o tema da ditadura militar brasileira em sala de aula.
Projetos
Visite a galeria de projetos especiais realizados pelo Instituto Vladimir Herzog na promoção da Memória, Verdade e Justiça no Brasil, e na difusão de histórias inspiradoras de luta.
Acervo
Explore uma diversidade de conteúdos relacionados ao período da ditadura militar brasileira que ocorreu entre 1964 e 1985.
Memória Verdade e Justiça
Os direitos da Justiça de Transição promovem o reconhecimento e lidam com o legado de atrocidades de um passado violento e de um presente e futuro que precisam ser diferentes, para que se possa dizer: “nunca mais!”. Conheça algumas medidas tomadas pelo Estado e sociedade brasileiros para lidar com o que restou da ditadura de 1964.
Cultura e Sociedade
Apesar do conservadorismo e da violência do regime, a produção cultural brasileira durante a ditadura militar se notabilizou pelo engajamento político e desejo de mudança. Conheça um pouco mais sobre as influências do período em diversos setores da sociedade.
Repressão e Resistência

O Estado brasileiro utilizou uma série de mecanismos para amedrontar a população, sobretudo aqueles que não estivessem de acordo com as medidas ditatoriais. Conheça os reflexos do aparato repressivo e os focos de resistência na sociedade.