1. Para se tornar popular, o presidente se juntou à maior torcida
Médici foi um presidente imposto goela abaixo dos brasileiros. Mas não era a imagem de ditador que o regime queria passar à população. Por isso mesmo, a ditadura se aproveitou da paixão do general pelo futebol para criar essa aproximação. Antes de entrar para a escola militar, o gaúcho foi jogador do Grêmio de Bagé. Torcedor do Grêmio, Médici também passou a dizer que apoiava o Flamengo, uma atitude vista como populista, para ganhar a afeição da maior torcida do país. Não à toa, era quase sempre visto nos estádios.
2. Um torneio para Médici
Além de associar sua imagem a um clube popular, Médici também ganhou um torneio com seu próprio nome, um ano após a conquista do tricampeonato pela seleção brasileira. O “Torneio do Povo”, oficialmente Torneio General Emílio Garrastazu Médici, reunia as equipes consideradas mais populares em cada estado na época. A primeira edição contou com Flamengo, Atlético Mineiro, Corinthians e Internacional, sendo os paulistas os primeiros campeões. Flamengo e Coritiba conquistariam as outras duas edições.
3. O Brasileirão de 1971 teve um concorrente
Uma das razões da criação do Campeonato Brasileiro em 1971 foi atender aos anseios por uma competição que realmente abrangesse o país. Entretanto, a primeira edição só contou com oito estados, um a mais do que no Robertão de 1970. O suficiente para gerar a revolta em algumas regiões esquecidas pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Para protestar contra as limitações, o governador de Goiás apoiou a realização do Torneio de Integração Nacional – clara referência à política de Médici no período. Participaram seis times goianos, além de dez de outros estados. E um Atlético também foi campeão: o Goianiense, batendo a Ponte Preta nas finais.
4. A seleção foi a embaixadora dos elefantes brancos da ditadura
A construção de estádios era uma prática corriqueira do governo. Os militares faziam obras faraônicas para marcar presença em diferentes cantos do país, assim como para passar uma ideia de seu poderio econômico. E quase sempre a seleção era usada nessa simbolização. O maior ícone do orgulho nacional, levando milhares às arquibancadas. Entre 1964 e 1985, a equipe jogou em 17 estádios recém-inaugurados, a maioria deles suportando multidões superiores a 30 mil pessoas.
5. A participação dos cartolas paulistas em 1964
O golpe de 1964 foi organizado por militares, mas não seria possível sem o apoio de parte da sociedade civil. Nesse contexto, os dirigentes de clubes paulistas foram protagonistas na conspiração contra João Goulart. Segundo René Armand Dreifuss, cartolas da Portuguesa, Palmeiras, São Paulo e Corinthians estiveram envolvidos nesse processo, como representantes da elite e comandantes de organizações populares. O presidente do São Paulo nessa época era Laudo Natel, também vice-governador do Estado e que se tornaria governador por dois mandatos, entre o fim dos anos 1960 e o início dos anos 1970.
6. Casa de Garrincha e Elza foi invadida em 1964
Na madrugada de 20 de junho de 1964, 10 homens que se diziam do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) invadiram a casa de Garrincha e Elza Soares, na Ilha do Governador. A história é relatada no livro “Estrela Solitária”, biografia de Mané, escrita por Ruy Castro. Não se sabe se os invasores eram agentes da ditadura. Elza e Garrincha eram alvos frequentes de hostilidades por parte de torcedores raivosos e moralistas em geral.
Fato é que os homens renderam o segurança e fizeram os ocupantes da casa – Garrincha, Elza, a mãe e três filhos da cantora – ficarem nus contra a parede. A casa foi completamente revirada. Antes de saírem, os homens ainda mataram um pássaro de estimação de Garrincha, presente do governador da Guanabara, Carlos Lacerda. Rezava a lenda que a ave – um mainá – dava azar ao jogador. Nos dias seguintes, alguns jornais noticiaram que a casa de Garrincha e Elza havia sido invadida enquanto eles dormiam.
7. Madu na terra de Mao
O Madureira tomou gosto por desbravar o mundo durante a década de 1960. A primeira grande aventura aconteceu na Cuba de Fidel Castro, ainda nos tempos de João Goulart presidente, quando chegaram a ser recebidos por Che Guevara na ilha. Já no ano seguinte, o Tricolor Suburbano saiu em turnê mundial. Passou por outros países comunistas, como a União Soviética. E, 10 dias depois de o golpe militar se consumar no Brasil, os cariocas estavam na China de Mao Tsé-Tung, o que era proibido pela Fifa. Foram recepcionados pelo vice-primeiro-ministro Chen Yi e passaram por quatro cidades. Chefiado por um militar na delegação, o Madureira só teve problemas ao sair do país asiático depois que um grupo de chineses foi detido pela ditadura brasileira. Só depois de alguns dias de negociação é que os brasileiros foram liberados para a volta.
8. Caio Martins foi usado como prisão política
O estádio de Caio Martins não servia apenas de casa ao Botafogo até alguns anos atrás. Durante a ditadura militar, foi palco de prisões e torturas, num caso em que, respeitadas as proporções, lembra o do Estádio Nacional do Chile. De acordo com estudo da Comissão Nacional da Verdade, pelo menos 38 pessoas ficaram presas em Caio Martins.
9. Após o golpe, Brasil impede a participação da União Soviética na Taça das Nações
A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) preparava uma grande festa em 1964. A entidade completava 50 anos e realizaria a Taça das Nações, torneio amistoso marcado para maio, com jogos no Maracanã e no Pacaembu. Inglaterra, Argentina e União Soviética eram os convidados para a comemoração. Mas o início da ditadura fez com que a pressão para que o time soviético fosse expulso do torneio se tornasse enorme. Presidente da confederação, João Havelange cedeu e substituiu os soviéticos por Portugal. E, na preparação, mais problemas durante um reles treino, quando os jogadores utilizavam coletes vermelhos. Depois, Havelange os substituiu por outros com as cores da bandeira. Mesmo com o elenco completo, o time de Vicente Feola foi vice-campeão, superado pela Argentina de Amadeo Carrizo, Antonio Rattín e Roberto Telch.
10. O ministro que interferiu num Gre-Nal
Alcindo se tornou célebre por suas grandes atuações nos clássicos. Dispensado do Inter, o ídolo do Grêmio tinha gana de jogar contra seu ex-clube. Mas não poderia fazê-lo em um Gre-Nal de 1967, tendo que cumprir suspensão após ser expulso no jogo anterior. Mesmo assim, o atacante entrou em campo. A carta branca foi dada pelo Ministro da Educação e Cultura, Tarso Dutra, que era gremista. Nas arquibancadas, os colorados ironizaram o pistolão com uma faixa dizendo “Obrigado, Ministro”. E mesmo com Alcindo em campo, o Inter venceu o clássico por 1 a 0, gol de Claudiomiro.