A luta armada no Brasil aconteceu durante um regime ditatorial e autoritário, em que não havia liberdade de expressão e que, além disso, proibia reuniões, prendia, torturava e matava seus opositores.
Assim, a oposição armada era planejada e executada pelos partidos e organizações clandestinas que tinham uma forma de funcionamento específica. Cada grupo se organizava em “células”, pequenos grupos de militantes coordenados pelas lideranças. Essas lideranças se reuniam com as lideranças de outras células, até chegar ao comitê central da organização. Esses grupos se dedicavam a estudos e longos processos de discussão teórica, pautados em textos dos antigos revolucionários e teóricos do marxismo.
Muitas questões se apresentavam às lideranças e aos militantes. A luta contra o regime era revolucionária e socialista? Quais setores da sociedade eram aliados para derrubar o governo? A revolução era majoritariamente camponesa ou operária? As ações armadas deveriam ser feitas contra as forças de segurança ou na forma de atentados em locais públicos? Era legítimo roubar bancos para conseguir dinheiro para a revolução? Como ganhar mais adeptos para a luta armada? Cada organização foi tomando um rumo próprio e os militantes faziam suas opções. Todos eram muito apegados às suas concepções, seus princípios e suas estratégias. Qualquer diferença teórica ou organizativa, por menor que fosse, poderia gerar um “racha”, o que fazia nascer uma nova organização armada, complexificando as estruturas da esquerda brasileira.
Escolhido o caminho da luta armada e definido o caráter da revolução, era preciso passar às tarefas que podiam ser organizativas, logísticas, informativas, de propaganda ou armadas. Para fazer tudo isso, os militantes rompiam os laços com o mundo civil e com a família, escolhiam um nome falso e passavam à “clandestinidade”. Viviam e se reuniam em locais que chamavam de “aparelhos”, na maioria das vezes precisavam mudar sistematicamente para não dar pistas sequer para os vizinhos que podiam desconfiar e avisar a polícia. Quando precisavam se comunicar, marcavam um “ponto”, como era chamado o local de encontro e trocavam informações rápidas e de forma disfarçada.
Muitos militantes das várias organizações tinham uma vida civil normal, trabalhavam e estudavam, para fornecer apoio às organizações clandestinas. E quanto mais a ditadura avançava nas técnicas de repressão e intimidação, mais difícil era viver na clandestinidade. Caso um companheiro fosse preso, os outros tinham que mudar imediatamente, pois sob tortura o prisioneiro poderia “abrir”, isto é, contar o endereço do aparelho para cessar as terríveis seções de tortura.
Entre 1967 e 1974, dezenas de organizações, compostas por milhares de pessoas, fizeram essa opção. Acreditavam que era possível derrotar o Exército e derrubar um regime solidamente instalado no Estado e apoiado por vários setores influentes da população.