Artistas protestam contra a Ditadura Militar - Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda Becker
Fotografia símbolo que mostra politização por parte da classe artística brasileira, que saiu em protesto contra a ditadura militar. Na imagem temos Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda_Becker.

Politização da música, do cinema e do teatro

Politização da música, do cinema e do teatro

Compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso e Geraldo Vandré atacavam de maneira mais ou menos velada a tortura, o autoritarismo, a censura. No Festival de Música Popular, promovido pela TV Record, em 1967, Edu Lobo e Capinam levaram o primeiro prêmio, com “Ponteio”. A música tem batida sertaneja e alusão à violência dos militares na letra. Nas entrelinhas, eles pediam o fim da ditadura:

“Certo dia que sei / Por inteiro / Eu espero não vá demorar / Este dia estou certo que vem / digo logo o que vim / Pra buscar (…) / Vou ver o tempo mudado / E um novo lugar pra cantar”.

Maria Medalha e Edu Lobo
A foto registra a comemoração da vitória de “Ponteio” no histórico Festival da TV Record de 1967. O compositor Edu Lobo ergue seu violão, um gesto que se tornou simbólico, ao lado da cantora Marília Medalha, que dividiu com ele a interpretação. A vitória da canção sobre as propostas tropicalistas foi uma catarse para o público e consagrou “Ponteio” como um dos grandes hinos de resistência da MPB durante a ditadura militar.

O pensamento marxista marcava o Cinema Novo de Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman e Glauber Rocha, que não só exibiam a miséria do país, mas a colocavam no centro de sua linguagem. Era a chamada “estética da fome”. No teatro, grupos como o Oficina e o Teatro de Arena baseavam-se em peças de alto teor político e na irreverência das montagens, que desobedeciam a convenções estabelecidas e procuravam quebrar a passividade do público.

Na realidade, o movimento de conscientização política da população e da cultura havia despontado antes do golpe de 1964. O nacionalismo, a politização e o desejo de mudança, tanto na linguagem teatral quanto na sociedade brasileira, estavam entre os pilares de grupos surgidos na década de 1950, como o Teatro de Arena e o Oficina. Isso transparece em espetáculos como Eles Não Usam Black-Tie (1958), de Gianfrancesco Guarnieri, que trata de uma greve operária, colocando moradores de favelas em cena.

Em 1981 foi lançada a versão cinematográfica de Eles não usam Black-tie
A cena pertence ao filme “Eles não usam Black-tie” (1981), dirigido por Leon Hirszman e estrelado por Gianfrancesco Guarnieri e Fernanda Montenegro. Baseada na peça clássica de Guarnieri, a obra retrata o drama de uma família operária dividida durante uma greve. Lançado durante o período final da ditadura, o filme se tornou um poderoso manifesto sobre a luta dos trabalhadores por direitos e um reflexo do ressurgimento do movimento sindical que abalava o regime militar.

Essa peça, na esteira do debate sobre as reformas de base do governo João Goulart, estava ligada à atuação do Centro Popular de Cultura da UNE, o CPC. O CPC viabilizou, por exemplo, a encenação de peças de teatro junto a associações de trabalhadores, na porta de fábricas ou na zona rural. A primeira atitude do governo militar foi estancar esse processo, na tentativa de dissolver as conexões entre a cultura de esquerda e as classes populares. O CPC, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) e o Movimento de Cultura Popular do Recife foram fechados.

Nessa primeira fase da ditadura, artistas e intelectuais de esquerda foram poupados e puderam continuar a produzir em liberdade. Com o Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em dezembro de 1968, a repressão recrudesceu: artistas e intelectuais foram presos e precisaram deixar o país, não raro na condição de exilados.

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