Compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso e Geraldo Vandré atacavam de maneira mais ou menos velada a tortura, o autoritarismo, a censura. No Festival de Música Popular, promovido pela TV Record, em 1967, Edu Lobo e Capinam levaram o primeiro prêmio, com “Ponteio”. A música tem batida sertaneja e alusão à violência dos militares na letra. Nas entrelinhas, eles pediam o fim da ditadura:
“Certo dia que sei / Por inteiro / Eu espero não vá demorar / Este dia estou certo que vem / digo logo o que vim / Pra buscar (…) / Vou ver o tempo mudado / E um novo lugar pra cantar”.
![Maria Medalha e Edu Lobo](https://memoriasdaditadura.org.br/wp-content/uploads/2023/10/2---Maria-Medalha-de-costas-e-Edu-Lobo-erguendo-o-violao-simbolicamente-1024x973.jpg)
O pensamento marxista marcava o Cinema Novo de Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman e Glauber Rocha, que não só exibiam a miséria do país, mas a colocavam no centro de sua linguagem. Era a chamada “estética da fome”. No teatro, grupos como o Oficina e o Teatro de Arena baseavam-se em peças de alto teor político e na irreverência das montagens, que desobedeciam a convenções estabelecidas e procuravam quebrar a passividade do público.
Na realidade, o movimento de conscientização política da população e da cultura havia despontado antes do golpe de 1964. O nacionalismo, a politização e o desejo de mudança, tanto na linguagem teatral quanto na sociedade brasileira, estavam entre os pilares de grupos surgidos na década de 1950, como o Teatro de Arena e o Oficina. Isso transparece em espetáculos como Eles Não Usam Black-Tie (1958), de Gianfrancesco Guarnieri, que trata de uma greve operária, colocando moradores de favelas em cena.
![Em 1981 foi lançada a versão cinematográfica de Eles não usam Black-tie](https://memoriasdaditadura.org.br/wp-content/uploads/2023/10/3---Em-1981-foi-lancada-a-versao-cinematografica-de-Eles-nao-usam-Black-tie-1024x576.jpg)
Essa peça, na esteira do debate sobre as reformas de base do governo João Goulart, estava ligada à atuação do Centro Popular de Cultura da UNE, o CPC. O CPC viabilizou, por exemplo, a encenação de peças de teatro junto a associações de trabalhadores, na porta de fábricas ou na zona rural. A primeira atitude do governo militar foi estancar esse processo, na tentativa de dissolver as conexões entre a cultura de esquerda e as classes populares. O CPC, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) e o Movimento de Cultura Popular do Recife foram fechados.
Nessa primeira fase da ditadura, artistas e intelectuais de esquerda foram poupados e puderam continuar a produzir em liberdade. Com o Ato Institucional Nº 5 (AI-5), em dezembro de 1968, a repressão recrudesceu: artistas e intelectuais foram presos e precisaram deixar o país, não raro na condição de exilados.