Homossexuais em endereço definido como “esquina do pecado”. Diário da Noite. São Paulo, 15 de março de 1955. Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo.
Pré-Ditadura (1946-1964)

Em 15 de março de 1955, o jornal Diário da Noite publicou uma foto de dois homens interagindo em uma rua, no centro de São Paulo. À primeira vista, a imagem se assemelha a um encontro corriqueiro, sem maior importância. Entretanto, o jornal noticiou como um “furo” ao afirmar que dois homossexuais se encontravam na chamada “esquina do pecado”.

Assim como os dois homens fotografados, antes mesmo do início da ditadura militar, a presença de outras pessoas que não se identificavam ou não se adequavam às normas e expectativas tradicionais de gênero e sexualidade foram notadas, vigiadas e perseguidas pela polícia e pela imprensa, sobretudo nos centros urbanos em expansão.

Este eixo mostra, como apontou o capítulo “Ditadura e homossexualidades”, do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que a discriminação e perseguição às pessoas dissidentes de gênero e sexualidade não se iniciaram com o golpe de Estado, em 31 de março de 1964. Nas décadas de 1950 e 1960, agentes do Estado apelaram para a moralidade vigente para justificar práticas que restringiam a existência pública das pessoas que escapavam às normas vigentes. Por outro lado, essas pessoas articularam estratégias e práticas de sociabilidade nas cidades, para se reunir e criar culturas próprias.

Dissidências de sexualidade e de gênero
Ao longo da exposição, as identidades das pessoas retratadas foram preservadas de acordo com os documentos selecionados pela curadoria. O objetivo é evitar a atribuição de identidades baseadas em critérios do presente. Mas, é importante destacar que alguns termos pejorativos também foram utilizados, sobretudo pela imprensa, para se referir a pessoas dissidentes de gênero e sexualidade, associando-as à “anormalidade” ou a “inversões sexuais”. Tais registros trazem a complexidade de, por um lado, documentar essas pessoas e suas práticas, por outro, construir um imaginário social marcado pelo preconceito.
Práticas de Sociabilidade
Testemunho de Miss Biá (1939-2020) sobre como começou sua carreira na arte transformista, em São Paulo(SP), no início dos anos 1960. Museu da Diversidade Sexual. “Memórias da Diversidade Sexual – Miss Biá”. 22 de agosto de 2018.
Notícia sobre os shows de travestis na boate Bolero, em Copacabana, Rio de Janeiro (RJ). "Para o chefe da censura ver". Diário da Noite. São Paulo (SP). 06 de março de 1961. Acervo D. A. Press.
Notícia sobre os shows de travestis na boate Bolero, em Copacabana, Rio de Janeiro (RJ). "Para o chefe da censura ver". Diário da Noite. São Paulo (SP). 06 de março de 1961. Acervo D. A. Press.
Testemunho de Edy Star (1938-2025) sobre como ele formou um grupo de amigos, a turma do quinto coqueiro, na Praça Castro Alves, centro de Salvador (BA), no início dos anos 1960. Coleção “Memórias à margem”. Testemunho de Edy Star. São Paulo. 24 de janeiro de 2024. Acervo Bajubá e Memorial da Resistência de São Paulo.

Imprensa homossexual

Criado por Agildo Guimarães, O Snob foi um jornal que circulou no Rio de Janeiro (RJ), entre 1963 e 1969. Nele, eram publicados textos sobre reuniões, encontros amorosos, concursos de travestis e práticas de encontros sexuais, sobretudo entre homens. Veja a edição nº 1 de O Snob, com uma breve apresentação do periódico e descrição de uma festa privada. Rio de Janeiro. 1963. Acervo Arquivo Edgard Leurenroth/Unicamp.

Sobre
Saiba mais sobre o projeto, realizadores e seus objetivos.
Apoio ao Educador
Aplique o conteúdo sobre a ditadura no Brasil na sala de aula para ampliar o estudo da História do Brasil e a formação da cidadania com o suporte de sequências didáticas e a promoção do protagonismo dos alunos. Consulte sequências didáticas que poderão auxiliar os educadores a trabalharem o tema da ditadura militar brasileira em sala de aula.
Acervo
Explore uma diversidade de conteúdos relacionados ao período da ditadura militar brasileira que ocorreu entre 1964 e 1985.
Memória Verdade e Justiça
Os direitos da Justiça de Transição promovem o reconhecimento e lidam com o legado de atrocidades de um passado violento e de um presente e futuro que precisam ser diferentes, para que se possa dizer: “nunca mais!”. Conheça algumas medidas tomadas pelo Estado e sociedade brasileiros para lidar com o que restou da ditadura de 1964.
Cultura e Sociedade
Apesar do conservadorismo e da violência do regime, a produção cultural brasileira durante a ditadura militar se notabilizou pelo engajamento político e desejo de mudança. Conheça um pouco mais sobre as influências do período em diversos setores da sociedade.
Repressão e Resistência

O Estado brasileiro utilizou uma série de mecanismos para amedrontar a população, sobretudo aqueles que não estivessem de acordo com as medidas ditatoriais. Conheça os reflexos do aparato repressivo e os focos de resistência na sociedade.