As eleições de 1965 foram um claro sinal de que a coalizão golpista não se sustentaria sem tensões. Apesar de impactados com o golpe e o governo militar que se instaurava, os partidos críticos ao governo Castelo Branco (PSD, PTB) conseguiram se rearticular e lançar candidaturas independentes do regime, ganhando governos estaduais importantes como Minas Gerais e Guanabara.
À direita, Carlos Lacerda, que apoiara o golpe, rompia definitivamente com o governo. Lacerda, em 1968, diria que tinha o “dever de mobilizar o povo para corrigir esse erro do qual (…) participei”. Em 1966, vendo fechadas as portas para sua eleição a curto prazo, ele lançou a Frente Ampla. Lacerda estabeleceu contatos com Juscelino Kubitschek, cassado em junho de 1964 e exilado em Lisboa, e com João Goulart, exilado em Montevidéu. De início, Jango não se empolgou com a aliança e demorou até meados de 1967 para aderir ao grupo, dando-lhe um tom mais à esquerda.
A frente foi lançada em outubro de 1966. Naquele momento, o governo Castelo Branco derrapava na retomada do crescimento e parecia curvado a uma invisível, mas sempre citada, “linha dura”, com a “eleição”, ou melhor, a homologação pelo Congresso, de Artur da Costa e Silva como o próximo presidente da República. Boa parte da classe média conservadora que tinha aplaudido a queda de Goulart, começou a questionar seu governo e, por consequência, o próprio regime. A partir de 1966, sob o efeito do AI-2, que assumia o caráter autoritário e ditatorial do regime, vários segmentos médios ampliaram o coro da oposição.
O longo manifesto da Frente Ampla fazia uma bela ginástica retórica para explicar como Carlos Lacerda e Juscelino (com vistas também a Jango), antes mortais inimigos, estavam juntos contra o regime. Conforme o documento, os três estavam juntos em nome de uma luta maior contra algo que ameaçava o país: a ditadura, chamada assim mesmo, com todas as letras. O manifesto era uma dura crítica ao regime e uma defesa do processo democrático interrompido em 1964. Desaprovava pesadamente a política recessiva de Castelo Branco e apelava a trabalhadores, estudantes, mulheres e empresários.
A Frente foi proibida em abril de 1968, em meio ao acirramento do conflito entre o movimento estudantil e o governo Costa e Silva.