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O então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola
O então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, durante a Campanha da Legalidade

Organizações de esquerda pré-golpe de 1964

Organizações de esquerda pré-golpe de 1964

As organizações de esquerda no Brasil são antigas, tendo sua origem nos vários grupos socialistas e anarquistas e anarco-sindicalistas do começo do século XX, bem como na fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em março de 1922. A história do PCB é a síntese das dificuldades de reconhecimento legal das organizações de esquerda. Em seus setenta anos de existência, foi uma agremiação considerada legal durante apenas 12 anos.

Nos anos 1930, alguns grupos dissidentes do PCB começaram a se organizar com base em ideias trotskistas, constituindo-se como partido em 1953: o Partido Operário Revolucionário dos Trabalhadores (PORT). Os pecebistas enfatizavam suas alianças com vários grupos políticos e setores sociais porque tinham uma visão de que as transformações políticas aconteceriam em etapas. Já os trotskistas passaram a apostar numa visão mais complexa da relação entre o capitalismo nacional e o imperialismo.

O PCB conseguiu ser um importante ator da política brasileira na fase do nacional-desenvolvimentismo e do reformismo, interrompida pelo golpe de 1964. Naquele momento, o PCB apostava em alianças de classe e numa “revolução nacional, democrática, antifeudal e anti-imperialista”. Vale lembrar que as teorias aceitas pelo PCB viam no latifúndio brasileiro uma espécie de “resquício” do feudalismo medieval, responsável pelo grande atraso econômico e social no campo brasileiro.

A esquerda católica foi outro protagonista político desde os anos 1950, por sua visão de militância e relação com a população pobre. Para a esquerda da igreja, a revolução brasileira deveria ser pensada de forma que levasse a uma libertação espiritual e coletiva, na qual o “pobre” seria o grande sujeito da transformação. A trajetória que vai da Juventude Universitária Católica (JUC) à Ação Popular (1962) sintetiza a caminhada da esquerda católica, passando de posições progressistas dentro da doutrina social da igreja a posições francamente revolucionárias e socialistas.

A JUC surgiu em meados dos anos 1950, sendo uma organização aceita pela hierarquia católica e pelo Vaticano, como forma de mobilizar a juventude. Havia também a Juventude Operária Católica (JOC), mas foi na JUC que se formou uma consciência mais radical sobre as desigualdades sociais e a necessidade de democratização efetiva da sociedade, contra as estruturas tradicionais de dominação. Essa nova consciência levou à crítica das leituras conformistas do catolicismo, que procuravam confortar e conformar os mais pobres de que seu destino era imutável e que deveriam aceitar as hierarquias sociais tradicionais, incluindo a submissão aos poderosos. A AP, no começo dos anos 1960, levou essa consciência ao limite, cruzando a fronteira entre o catolicismo progressista e o socialismo de origem cristã.

No contexto dos anos 1960, não podemos esquecer o surgimento de dois grupos importantes: o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e a Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop). O PCdoB era uma dissidência do PCB que se recusava a compor uma política de alianças e de “convivência pacífica” entre socialismo e capitalismo, encaminhando-se para incorporar as teses Mao Tse Tung sobre a revolução camponesa, implementada na China. Em outro sentido, surgiu a Polop, agregando socialistas não pecebistas de diversas origens. Para essa organização, a revolução brasileira deveria ser “socialista”, sem passar necessariamente pela etapa “nacional-democrática”.

No começo dos 1960 também se formou uma ala mais à esquerda do Partido Socialista Brasileiro, de existência legal, cujo representante máximo era Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas. Julião acenava com a possibilidade de um levante armado camponês para viabilizar uma reforma agrária efetiva.

A Revolução Cubana de 1959, e a guinada socialista de Fidel Castro em 1961, fornecia os marcos do contexto internacional que alimentava concretamente a possibilidade de uma revolução na América Latina, causando grande impacto nas organizações de esquerda brasileiras no contexto do governo João Goulart. O Brasil se via como o grande território de batalha da Guerra Fria e a direita não ficaria inerte, assistindo aos projetos revolucionários das esquerdas ganharem o primeiro plano.

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