Naquele momento, formaram-se seis partidos. O Partido Democrático Social (PDS), sucessor da Arena e de apoio ao governo. O PMDB, de oposição, sucedeu ao MDB, mas acabou perdendo parte de seus parlamentares que foram se abrigar em outras legendas. O Partido Popular (PP) recebeu moderados do antigo MDB e liberais da Arena. A sigla PTB foi negada a Leonel Brizola, numa manobra para que o velho líder trabalhista não ficasse com a legenda histórica criada por Vargas, que registrou o Partido Democrático Trabalhista (PDT). E o Partido dos Trabalhadores (PT), uma novidade que surgiu da articulação dos trabalhadores do ABC, da esquerda católica, movimentos comunitários, grupos remanescentes de organizações da luta armada e trotskistas. O PCB e o PCdoB foram mantidos na ilegalidade e atuaram dentro do PMDB, até o fim da ditadura.
A grande frente ampla de oposição organizada em torno do MDB se desfez, diluída em vários partidos. Ainda assim, na eleição de 1982 o PMDB elegeu nove governadores (inclusive os de São Paulo e Minas Gerais) e 200 deputados federais. No cômputo geral, obteve mais votos que o PDS e isso garantiu moral para negociar a transição com o regime. Um ano antes, o PP se dissolveu, e vários líderes moderados entraram para o PMDB, como Tancredo Neves, dando-lhe uma feição mais de centro-direita do que de centro-esquerda.
O processo pela democratização avançou e as eleições diretas para presidente da República entraram na pauta: a campanha das “Diretas já” empolgou a sociedade. Entre novembro de 1983 e abril de 1984, uma verdadeira festa cívica tomou conta das cidades brasileiras, com milhões de pessoas aderindo às manifestações, gritando “Diretas já!”. O movimento começou no final de 1983, num comício em frente ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo, mas ganhou força a partir de janeiro de 1984, quando o PMDB, maior partido de oposição, assumiu a liderança da frente pelas diretas.
Os comícios foram ganhando os meios de comunicação e agregaram todo o sentimento de cansaço em relação ao regime autoritário e a frustração política e econômica com o governo militar. A parte mais moderada do PMDB, liderada por Tancredo Neves, tentou esvaziar as ruas, para negociar uma transição pelo alto com os militares, mas a campanha já tinha vida própria por volta de abril.
Nos dias 10 e 16 de abril, Rio de Janeiro e São Paulo, respectivamente, colocaram mais de 1 milhão de pessoas nas ruas para exigir a volta da democracia eleitoral. Mas o regime militar não abria mão das eleições indiretas.
O governo, com a ajuda da parte moderada da oposição, evitou que o Congresso aprovasse a emenda constitucional proposta pelo deputado Dante de Oliveira, utilizando pressões de todos os tipos, desde censura até a mobilização de tropas em Brasília no dia da votação. A emenda recebeu 298 votos a favor e 65 contrários, mas foram decisivas as 113 ausências propositais, organizadas pelo governo e pelos deputados que queriam boicotar a proposta sem ir diretamente contra ela, impedindo o quórum mínimo para reformar a Constituição.
Mesmo as diretas não acontecendo, aquele que é considerado o maior movimento de massas da nossa história abriu caminho para a vitória da oposição na eleição indireta de 1984, pela qual um civil voltou à presidência da República, após 21 anos de governos militares. Começava, então, a “Nova República”.