Manifestação em defesa da população LGBT em 1980 na cidade de São Paulo
Manifestação em defesa da população LGBT em 1980 na cidade de São Paulo

Resistência da população LGBT+

Resistência da população LGBT+

A forte repressão enfrentada pela comunidade gerou movimentos de resistência inspirados nas organizações de luta por direitos de homossexuais, surgidas no contexto internacional. Entre as décadas de 1960 e 1980, diversos grupos começaram a formar coletivos de enfrentamento à opressão da ditadura civil-militar e ao preconceito. Foi o início da mobilização do movimento de diversidades em defesa de seu reconhecimento e de seus direitos.

Artistas como o cantor Ney Matogrosso e os grupos musicais Secos & Molhados e Dzi Croquettes punham em questão os papéis masculino e feminino, em espetáculos andrógenos, em que surgiam vestidos com trajes considerados femininos, usando salto alto e maquiagens. Também surgiram organizações de debate político sobre a questão, como o periódico O Lampião da Esquina e o Somos: Grupo de Afirmação Homossexual, conhecido também como Grupo Somos.

Durante os anos de 1960, começaram a circular, no Rio de Janeiro, diversas publicações voltadas ao público homossexual, como o jornal “O Snob”, fechado por pressão da censura no final daquela década. Elas foram precursoras de periódicos, como o Lampião da Esquina, primeira revista brasileira feita por homossexuais e dirigida a esse público.

Criada, no Rio de Janeiro, por importantes nomes da militância queer que se constituiu no período, como João Antônio Mascarenhas, Aguinaldo Silva, João Silvério Trevisan, Peter Fry, Jean-Claude Bernardet, entre outros, a publicação se dedicava a divulgar informações culturais e artigos que tratavam de temas atinentes à comunidade LGBTQIAPN+, como a perseguição de homossexuais por nazistas e a relação da Igreja Católica com o assunto. Apesar das dificuldades com a censura, o indiciamento de seus editores e os ataques a bancas de jornal que a distribuíam, a revista circulou mensalmente entre os anos de 1978 e 1981.

Por sua vez, as tentativas iniciais de organização política dos homossexuais datam de 1976, mas os projetos foram inviabilizados pela repressão ainda vivida nesse momento de ditadura. Somente dois anos mais tarde, em 1978, surgiu o Grupo Somos: Grupo de Afirmação Homossexual, organização de debate político da questão de diversidade de sexualidade e gênero, segundo relata João Silvério Trevisan – um de seus fundadores, juntamente com James Green, historiador brasilianista e referência da questão no Brasil. Com propostas muito avançadas para o período, o Somos foi o primeiro coletivo brasileiro que visava defender os direitos da comunidade LGBT+ em todos os âmbitos da vida social.

Manifestação do Primeiro de Maio em São Bernardo do Campo, 1980
Manifestação do Primeiro de Maio em São Bernardo do Campo, 1980

Em 1979, foi realizado, no Rio de Janeiro, o primeiro encontro da comunidade militante, no qual se discutiu a necessidade da inclusão do respeito à opção sexual (termo usado à época), na Constituição Federal. Foi debatida, ainda, a urgência em se desencadear uma campanha para que a chamada “homossexualidade” deixasse de ser vista como uma doença. Também se iniciou a convocação do encontro seguinte, que aconteceu em São Paulo, em 1980.

Contra os abusos do delegado Richetti em São Paulo, foram organizados protestos, e em 13 de julho de 1980, na frente do Teatro Municipal, ocorreu a primeira marcha gay em São Paulo, que pode ser considerada como uma precursora da Parada do Orgulho.

Em 1980, igualmente, surgiu o primeiro grupo exclusivamente lésbico do país, resultado de uma cisão no Grupo Somos. Além disso, o Grupo Gay da Bahia iniciou sua atuação, que perdura até hoje, no combate à homofobia e prevenção da AIDS, ampliando o eixo do ativismo LGBTQIAPN+ para além de São Paulo e Rio de Janeiro. Finalmente, em 1995, foi fundada a primeira organização do movimento em nível nacional, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).

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