O golpe de Estado na Argentina, de 24 de março de 1976, foi parte de um processo histórico mais amplo ocorrido com o crescimento do poder dos militares do país desde a derrubada do governo de Juan Domingo Perón, em 1955. Essa consolidação das Forças Armadas como atores políticos marcou o fim do modelo de industrialização com intensa participação do Estado, e o início de um modelo liberal-conservador, associado ao capital estrangeiro e baseado no setor agrário. Em 1966, um golpe militar levou ao poder o general Juan Carlos Onganía. O novo regime, tomado pela missão de “salvar a pátria”, adotou a Doutrina de Segurança Nacional, nos moldes da luta anticomunista proposta pelos Estados Unidos. Mesmo com o fim desse regime, pressionado pelas massas, e com a volta de Perón do exílio para ocupar brevemente o governo, a situação política se deteriorou com o avanço da luta armada de esquerda. Após a morte de Perón, a sucessora foi Isabelita Perón. A repressão aos grupos armados se intensificou, iniciando o chamado terrorismo de Estado contra movimentos e organizações de esquerda, com destaque para o grupo paramilitar Triple A (Aliança Anticomunista Argentina).
Em 1976, a Junta Militar tomou o poder e deu início à ditadura militar mais violenta da história argentina. A “guerra suja” contra a guerrilha de esquerda e contra os demais opositores deixou 30 mil desaparecidos e quase 2 mil mortos. Uma das características mais macabras dessa repressão foi a realização dos chamados “voos da morte”, por meio dos quais foram jogados no mar entre 1,5 mil e 2 mil prisioneiros vivos. A ditadura argentina foi marcada também pela morte e sequestro de bebês, filhos das vítimas da repressão que eram adotados por famílias e amigos dos militares. Por isso é tão notável o trabalho desenvolvido pelas Avós da Praça de Maio, além das Mães da Praça de Maio, que buscam notícias dos desaparecidos e de seus respectivos filhos. Em 1983, debilitada pela aventura fracassada na Guerra das Malvinas contra a Inglaterra, a ditadura negociou a volta dos civis ao poder.