O deputado Mario Juruna no Plenário da Câmara
O deputado Mario Juruna no Plenário da Câmara. Responsável pela criação da Comissão Permanente do Índio, Juruna foi a voz dos povos originários no Congresso Nacional.

Resistência indígena

Em resposta às pressões, as lideranças de diferentes povos passaram a se organizar. Em abril de 1974, realizou-se em Diamantino, Mato Grosso, a primeira de dezenas de assembleias que resultaram, em 1980, na formação da União das Nações Indígenas (UNI). Foi a primeira organização indígena de caráter nacional e teve papel fundamental no processo constituinte de 1988, quando os direitos à terra e à reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições, foram garantidos. O artigo 231 da Constituição Brasileira ordena a demarcação dos territórios indígenas, institui educação e saúde diferenciadas, voltadas para a cultura e para as necessidades reais das populações indígenas. Isso resultou, por exemplo, na criação de materiais didáticos específicos, merendas e calendários escolares diferenciados.

Nos anos 1970, o cacique xavante Mário Juruna se destacou como liderança indígena na luta por demarcação de terra e, em 1982, foi eleito deputado federal pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT). No Congresso, pediu a volta dos militares aos quartéis e a entrega da direção da Funai aos indígenas, também ajudou a criar a comissão permanente de assuntos indígenas no Congresso.

Já no final da ditadura, as mortes de duas importantes lideranças, bem como os massacres contra os Tikuna e os Yanomami, chamaram a atenção do país e do mundo para a luta do movimento indígena pela recuperação de suas terras, Em 1980, o cacique Angelo Kretã Kaingang, ex-vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que lutava pela recuperação de suas terras no Paraná, morreu após um suspeito acidente de carro, envolvendo três militares. A verdadeira situação da morte de Kretã, ocorrida no município de Mangueirinhos (PR), jamais foi esclarecida.

Já o líder Guarani Marçal de Souza Tupã I, que desde o início da década de 1970 denunciava a invasão e a exploração ilegal de madeira nas terras de seu povo no Mato Grosso do Sul, foi assassinado por pistoleiros em 1983, dentro de casa, no município de Antônio João (MS). Três anos antes, Marçal chegou a se encontrar com o Papa João Paulo II, para quem denunciou pessoalmente o genocídio dos povos indígenas no Brasil e as ameaças contra lideranças como ele.

“Queremos dizer a Vossa Santidade a nossa miséria, a nossa tristeza pela morte de nossos líderes assassinados friamente por aqueles que tomam nosso chão, aquilo que para nós representa a própria vida e nossa sobrevivência, neste grande Brasil, chamado um país cristão”, relatou Marçal.

Cacique Marçal de Souza realiza denúncia perante o Papa João Paulo II
Na cidade de Manaus em 1980 o Cacique Marçal de Souza realiza denúncia perante o Papa João Paulo II. O líder indígena descreveu as mortes sofridas por indígenas ao pontífice
Sobre
Saiba mais sobre o projeto, realizadores e seus objetivos.
Apoio ao Educador
Aplique o conteúdo sobre a ditadura no Brasil na sala de aula para ampliar o estudo da História do Brasil e a formação da cidadania com o suporte de sequências didáticas e a promoção do protagonismo dos alunos. Consulte sequências didáticas que poderão auxiliar os educadores a trabalharem o tema da ditadura militar brasileira em sala de aula.
Projetos
Visite a galeria de projetos especiais realizados pelo Instituto Vladimir Herzog na promoção da Memória, Verdade e Justiça no Brasil, e na difusão de histórias inspiradoras de luta.
Acervo
Explore uma diversidade de conteúdos relacionados ao período da ditadura militar brasileira que ocorreu entre 1964 e 1985.
Memória Verdade e Justiça
Os direitos da Justiça de Transição promovem o reconhecimento e lidam com o legado de atrocidades de um passado violento e de um presente e futuro que precisam ser diferentes, para que se possa dizer: “nunca mais!”. Conheça algumas medidas tomadas pelo Estado e sociedade brasileiros para lidar com o que restou da ditadura de 1964.
Cultura e Sociedade
Apesar do conservadorismo e da violência do regime, a produção cultural brasileira durante a ditadura militar se notabilizou pelo engajamento político e desejo de mudança. Conheça um pouco mais sobre as influências do período em diversos setores da sociedade.
Repressão e Resistência

O Estado brasileiro utilizou uma série de mecanismos para amedrontar a população, sobretudo aqueles que não estivessem de acordo com as medidas ditatoriais. Conheça os reflexos do aparato repressivo e os focos de resistência na sociedade.