Trecho de relatório baseado em informações da CIA, redigido pelo Secretário Adjunto de Estado para Assuntos Latino-Americanos, Harry Shlaudeman, e apresentado ao Secretário de Estado Henry Kissinger em agosto de 1976. O documento resume a coordenação das forças de segurança do Cone Sul, onde reporta que "estão unindo forças para erradicar a 'subversão', uma palavra que cada vez mais se traduz em dissidência não violenta da esquerda e centro-esquerda. As forças de segurança do Cone Sul agora coordenam estreitamente as atividades de inteligência; operam em seus territórios em busca de 'subversivos'; estabeleceram a Operação Condor para localizar e matar terroristas... em seus próprios países e na Europa." Disponível na íntegra em National Security Archive - The George Washington University.
Trecho de relatório baseado em informações da CIA, redigido pelo Secretário Adjunto de Estado para Assuntos Latino-Americanos, Harry Shlaudeman, e apresentado ao Secretário de Estado Henry Kissinger em agosto de 1976. O documento resume a coordenação das forças de segurança do Cone Sul, onde reporta que "estão unindo forças para erradicar a 'subversão', uma palavra que cada vez mais se traduz em dissidência não violenta da esquerda e centro-esquerda. As forças de segurança do Cone Sul agora coordenam estreitamente as atividades de inteligência; operam em seus territórios em busca de 'subversivos'; estabeleceram a Operação Condor para localizar e matar terroristas... em seus próprios países e na Europa." Disponível na íntegra em National Security Archive - The George Washington University.

Operação Condor

Uma ditadura não se sustenta somente pela repressão, mas ela é um elemento muito importante para entender a sua natureza e forma de atuação. O diálogo entre esses regimes revela como há lógicas parecidas de atuação e a existência de uma articulação continental. O entendimento das conexões e o estabelecimento de comparações entre as experiências autoritárias latino-americanas podem trazer um ganho significativo na compreensão das ditaduras militares, incluindo a brasileira. Muitos desses regimes tiveram diretrizes ideológicas e modelos de atividade parecidos, seja pela conjuntura histórica em comum (como a Guerra Fria e o anticomunismo) ou mesmo por contatos institucionais. Nesse contexto, destacamos a Operação Condor, uma articulação repressiva empreendida entre algumas ditaduras da América do Sul, oficializada em 1975. A coordenação de práticas repressivas passou a ser utilizada pelos regimes autoritários da região desde, pelo menos, o começo dos anos 1970, muitas vezes de forma bilateral, mas a Operação Condor foi um passo a mais nesses esforços de ação conjunta. Até a década de 1980, essas ditaduras se valeram de meios oficiais e clandestinos para reprimir qualquer oposição, caracterizada como de “segurança nacional”.

A militarização da política ratificada com as ditaduras na América Latina consolidou a diretriz da Doutrina de Segurança Nacional de caracterizar diversas formas de dissidências dentro da sociedade como ameaças à Nação. Formou-se um entendimento autoritário do que se denominava “ordem” e forjou-se a necessidade de defender esse projeto imposto. Assim, o braço armado do Estado, notoriamente as Forças Armadas, passou a perseguir indivíduos e grupos dentro das fronteiras do próprio Estado Nacional. Essa atividade repressiva conduzida pelo Estado forçou muitas pessoas a buscarem o exílio fora do seu país de origem, criando fluxos de movimentação por todo o continente e no mundo. O fervor repressivo, percebendo essa tática, buscou formas de conduzir atividades clandestinas de sequestro, tortura e assassinato fora das fronteiras nacionais. Porém, cada Estado é soberano dentro de suas fronteiras nacionais, e um alinhamento entre esses governos se fez necessário. A conjuntura histórica das ditaduras militares foi o cenário no qual esses Estados puderam se articular em um esforço repressivo coordenado, a Operação Condor.

A Operação Condor foi arquitetada no Chile, país que passava por uma ditadura militar desde 1973. Tendo em conta algumas ações pontuais de colaboração entre as polícias políticas da região e a avaliação de que uma articulação maior era necessária para barrar o suposto “terrorismo de esquerda” além das fronteiras nacionais, em novembro de 1975 foi realizada a primeira reunião interamericana de inteligência nacional, na capital Santiago. Ela foi dirigida por Manuel Contreras, chefe da Direção Nacional de Informações (DINA), órgão responsável por investigações e diversas ações de sequestro, execução e tortura da ditadura chilena. A reunião contou com representantes das ditaduras da Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Chile. Enviados do governo brasileiro estiveram presentes como observadores, e o país passou efetivamente a integrar a Operação no ano seguinte; os governos da Colômbia, Peru e Venezuela participaram de algumas atividades, sendo por vezes descritos como membros colaboradores ou esporádicos.

A principal deliberação deste encontro foi a diretriz de cooperação entre os regimes, o que ficou conhecido como Operação Condor. O nome Condor, adotado logo na primeira sessão de encontro das polícias políticas, faz referência à maior ave voadora do mundo. A escolha por esse animal denota a intenção de “caça” dos militares. O condor habita a região da Cordilheira dos Andes, cadeia montanhosa que circunscreve o Chile na geopolítica da América do Sul. É um símbolo nacional no Chile, inclusive no seu brasão de armas oficial.

Ata da reunião interamericana de inteligência nacional  que deu origem à Operação Condor. Fonte: The National Security Archive – George Washington University

Conforme descrito na própria ata da reunião de 1975, a Operação Condor foi compreendida em três fases, que analisaremos adiante.

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