Explore os temas

Ou navegue pelas páginas

Hebe de Bonafini em audiência do Julgamento das Juntas. 25 de abril de 1985 - Fonte Revista Gente y la Actualidad.
Hebe de Bonafini em audiência do Julgamento das Juntas. 25 de abril de 1985 - Fonte Revista Gente y la Actualidad.

Justiça de Transição

A história recente tem evidenciado que, a despeito do término de regimes autoritários, ditatoriais ou de guerras civis, as sociedades continuam enfrentando as heranças desses passados traumáticos. Essas experiências integram aquilo que o historiador francês Henry Rousso denominou “um passado que não passa”, expressão que busca evidenciar a persistência de questões não necessariamente superadas com o fim formal desses regimes, resultando em uma intersecção contínua entre passado e presente.

As décadas de 1980 e 1990 assistiram a transições políticas em que regimes autoritários começaram a se retirar do poder, sendo parte significativa desse processo conduzida de maneira pactuada, com a própria elite ditatorial liderando ou participando da transição democrática. Países do Cone Sul da América Latina, bem como da Europa Central e do Sul, oferecem exemplos históricos relevantes para a análise das distintas formas pelas quais essas transições ocorreram. Na Argentina, por exemplo, os militares deixaram o poder politicamente enfraquecidos em 1983, sendo posteriormente levados ao banco dos réus e responsabilizados pelas violações de direitos humanos cometidas durante a ditadura; em Portugal, a Revolução dos Cravos derrubou o regime do Estado Novo, em 1974, mas não promoveu um processo de responsabilização; no Brasil, os militares, aliados a setores civis conservadores, conduziram uma transição pactuada, prolongada por cerca de uma década, que garantiu a impunidade por meio da aprovação da Lei de Anistia, em 1979, a qual ainda hoje impede a responsabilização criminal de agentes estatais envolvidos em violações de direitos humanos.

Julgamento das Juntas Militares argentinas em Buenos Aires, 1985. Revista Gente y la Actualidad, 22 abr. 1985 - Wikimedia Commons.
ulgamento das Juntas Militares argentinas em Buenos Aires, 1985. Entre os julgados estavam Jorge Rafael Videla, Emilio Eduardo Massera, Roberto Eduardo Viola, Armando Lambruschini, Orlando Ramón Agosti, Omar Graffigna, Leopoldo Galtieri, Jorge Anaya e Basilio Lami Dozo, todos acusados por crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura argentina (1976–1983). O processo histórico marcou o início da responsabilização penal de agentes de Estado no Cone Sul. Autor desconhecido. Revista Gente y la Actualidad, 22 abr. 1985. Domínio público / Wikimedia Commons

Independentemente da forma como tais regimes se encerraram, o renascimento das democracias nesses países foi marcado pelo debate acerca da necessidade de apuração dos crimes cometidos no passado e da adoção de medidas de reparação. Muitos desses Estados implementaram políticas voltadas à memória, à verdade e à justiça, com o intuito de fortalecer suas democracias e prevenir a repetição de tais crimes. Essas iniciativas compõem o que se convencionou chamar de Justiça de Transição, um conceito que, embora alvo de controvérsias, tem sido amplamente utilizado por estudiosos de diversas áreas para examinar como as democracias lidam com seus passados autoritários.

Lei de Anistia

A Lei de Anistia brasileira, promulgada no dia 28 de agosto de 1979, representou um marco no processo de abertura política ao conceder perdão a crimes políticos cometidos durante o regime. Embora tenha permitido o retorno de exilados e a reintegração de opositores ao regime, a lei também beneficiou agentes do Estado envolvidos em violações aos direitos humanos, o que gerou intensos debates sobre impunidade e Justiça de Transição no país.

Revolução dos Cravos

A Revolução dos Cravos, ocorrida em 25 de abril de 1974 em Portugal, constituiu um golpe de Estado de caráter pacífico, liderado por oficiais do Movimento das Forças Armadas (MFA), que resultou na derrocada do regime autoritário do Estado Novo. Esse processo marcou o início da transição democrática no país e impulsionou a descolonização dos territórios africanos sob domínio português. Caracterizada por ampla mobilização popular e pela ausência de confrontos armados, a revolução tornou-se símbolo de ruptura com mais de quatro décadas de ditadura.

Argentina

Após o término da ditadura militar na Argentina, no ano de 1983, o país iniciou um processo de transição democrática com a eleição de Raúl Alfonsín. Esse período foi caracterizado por iniciativas significativas de responsabilização pelos crimes cometidos durante o regime, destacando-se o Julgamento das Juntas Militares. No entanto, o avanço da justiça transicional enfrentou obstáculos, como tensões com as Forças Armadas e instabilidades econômicas, que culminaram na promulgação de leis de anistia nos anos seguintes. Essas medidas foram posteriormente revogadas, especialmente a partir dos anos 2000, quando foram retomados os julgamentos por violações aos direitos humanos.

Sobre
Saiba mais sobre o projeto, realizadores e seus objetivos.
Apoio ao Educador
Aplique o conteúdo sobre a ditadura no Brasil na sala de aula para ampliar o estudo da História do Brasil e a formação da cidadania com o suporte de sequências didáticas e a promoção do protagonismo dos alunos. Consulte sequências didáticas que poderão auxiliar os educadores a trabalharem o tema da ditadura militar brasileira em sala de aula.
Acervo
Explore uma diversidade de conteúdos relacionados ao período da ditadura militar brasileira que ocorreu entre 1964 e 1985.
Cultura e Sociedade
Apesar do conservadorismo e da violência do regime, a produção cultural brasileira durante a ditadura militar se notabilizou pelo engajamento político e desejo de mudança. Conheça um pouco mais sobre as influências do período em diversos setores da sociedade.
Repressão e Resistência

O Estado brasileiro utilizou uma série de mecanismos para amedrontar a população, sobretudo aqueles que não estivessem de acordo com as medidas ditatoriais. Conheça os reflexos do aparato repressivo e os focos de resistência na sociedade.