Em 17 de abril de 2016, durante a votação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o então deputado federal Jair Bolsonaro proferiu o seu voto a favor da cassação do mandato em “memória do coronel Carlos Brilhante Ustra, o terror de Dilma Rousseff”.
De todos os votos naquele dia, ainda sem sabermos que, no futuro, Bolsonaro chegaria à presidência da República, a menção ao chefe do DOI-CODI do II Exército, em São Paulo, ecoou na Casa que, em 6 de dezembro de 2012, havia devolvido simbolicamente os mandatos de 29 deputados federais ainda vivos cassados pela ditadura. Ustra esteve à frente de um dos principais centros de detenção, tortura e extermínio do país entre setembro de 1970 e janeiro de 1974, período em que se concentra o maior número de atingidos pela violência política no Brasil.
Não era a primeira vez que Bolsonaro se referia ao coronel Brilhante Ustra ou à ditadura com palavras elogiosas. Em seu gabinete na Câmara Federal, havia fotos de reconhecidos torturadores, assim como a frase “quem procura ossos é cachorro”, em referência à busca dos corpos de desaparecidos políticos no Brasil. Além disso, seu filho, também deputado federal, Eduardo Bolsonaro, em 2018, usou uma camiseta com os dizeres “Ustra vive” e o rosto do coronel estampado no tecido. Tal frase acabou se transformando no que hoje conhecemos como hashtags e é usada pelos simpatizantes da ditadura em redes sociais.
Mas Bolsonaro não estava sozinho. Em manifestações nas ruas das principais cidades do país pelo impeachment da presidenta, era possível ver faixas com frases comuns às mesmas que pediram a intervenção militar em 1964, com destaque para “o Brasil não será uma nova Cuba”, que acompanhava o pedido salvacionista às Forças Armadas brasileiras. Nessas mesmas manifestações, antigos delegados do DOPS — a polícia política que marcou boa parte da nossa história republicana do século XX — eram vistos nas ruas, e vários manifestantes pediam fotos que orgulhosamente postavam em suas redes sociais.

