Nove dias após o golpe, em 9 de abril de 1964, a Universidade de Brasília (UnB) teve o seu campus tomado por tropas do exército. Essa foi somente a primeira das muitas invasões militares sofridas pelas universidades brasileiras durante a ditadura.
Rapidamente, a ditadura agiu para minar a influência intelectual das “ideias comunistas” no ambiente universitário, conforme apregoava a Doutrina de Segurança Nacional. Nesse processo, contaram frequentemente com a ajuda estratégica dos Estados Unidos, que não foram apenas “apoiadores” distantes do golpe de 1964. Ao contrário, participaram diretamente do financiamento de muitas das reformas do governo militar para educação.
Entre estas, ganharam notoriedade as medidas resultantes dos acordos MEC-USAID, estabelecidos entre o Ministério da Educação brasileiro e a USAID (United States Agency for International Development), em negociações secretas que se estenderam de junho de 1964 a janeiro de 1968.
A USAID é um órgão de política externa do governo estadunidense que surgiu em 1961, dois anos após a revolução cubana. Seu propósito era financiar programas de desenvolvimento em países pobres que tinham importância estratégica para os Estados Unidos dentro da Guerra Fria, sempre com objetivo de enfraquecer movimentos populares, revolucionários e anti-imperialistas.
No Brasil da ditadura, a educação foi um foco prioritário do financiamento externo. Os acordos MEC-USAID previam, entre outras ações, a tradução e publicação de livros, reestruturação de programas de ensino, planejamento da reforma universitária e também auxílio para mudanças na educação básica.
Desde o primeiro momento, essa verdadeira intervenção dos EUA na política educacional do Brasil gerou críticas e intensos protestos públicos, especialmente do movimento estudantil universitário. Sem dúvida, as universidades estiveram no centro das batalhas ideológicas do período. No contexto da Guerra Fria, eram instituições que refletiam as tensões internacionais e, por isso, ocuparam lugar de destaque nas ações da ditadura brasileira. Não por acaso, lideranças da comunidade universitária foram alvo imediato das primeiras ações repressivas.
No violento processo de expurgo realizado entre abril e outubro de 1964, mais de uma centena de professores foi demitida, aposentada à força ou presa. Líderes estudantis foram detidos e dezenas de estudantes foram expulsos das faculdades. Os expurgos se amparavam na Lei de Segurança Nacional, que denunciava “atentado contra a ordem política e social”.
Alguns professores chegaram a ser presos, tanto em dependências policiais quanto em lugares de detenção excepcionais, como o navio-prisão “Raul Soares”, em Santos, ou a ilha de Fernando de Noronha. Os jovens professores da USP, Boris Vargaftig, Luiz Hildebrando Pereira e Thomas Maack, por exemplo, foram levados ao navio-prisão de Santos, onde permaneceram detidos meses a fio logo nos primeiros anos da ditadura.
Com o tempo, a repressão constante iria incrementar suas agências especializadas de controle social e político. Embora torturas e assassinatos já ocorressem desde o início do golpe de 1964, o terrorismo de Estado se intensificou ainda mais depois do AI-5 em 1968, com o assassinato de professores nos anos 1970.