A expansão do sistema escolar público, com vistas à universalização do 1º grau, era uma exigência importante do desenvolvimento do capitalismo monopolista e foi a principal medida da Reforma do Ensino na ditadura. De fato, a rede de escolas expandiu-se significativamente no período. Mas esse crescimento não foi acompanhado dos investimentos necessários. Tanto assim que, em 1982, quase no final da ditadura, o Banco Mundial divulgou um estudo em que o Brasil aparecia como o país da América Latina com menor percentual de gasto público na educação: apenas 6,5% do PIB. O Haiti, penúltimo colocado da lista, gastava 11,3% (dados do PNAD, The World Bank, 1982).
Os resultados dessa política desastrosa foram a rápida deterioração da qualidade do ensino, a drástica redução nos salários dos professores, a contratação de docentes sem formação adequada, e também a falta de materiais básicos requeridos no cotidiano escolar.
Não era incomum, por exemplo, que em algumas regiões do país fossem contratadas pessoas que tinham apenas o 1º grau completo para lecionar neste mesmo nível de ensino. A situação não era melhor no 2º grau profissionalizante, chegando-se ao ponto de alunos terem de desenhar o teclado das máquinas de escrever em folhas de papel para que pudessem realizar as tarefas da aula de datilografia, pois as escolas não possuíam tais máquinas.
É importante lembramos que antes do golpe de 1964, a escola pública no Brasil era voltada para a formação das elites dirigentes e das camadas sociais dominantes. É comum ouvirmos dos mais velhos que a escola pública, no passado, tinha “mais qualidade”. Essa afirmação se refere a uma escola sem a presença das classes trabalhadoras. Ou seja, antes da ditadura, a escola pública era uma instituição que recebia maiores investimentos estatais e tinha objetivo de formar os melhores gerentes do status quo.
De fato, uma novidade da ditadura foi a massificação da escola. Mas não nos deixemos enganar, o regime militar não tinha a intenção de cumprir qualquer requisito humanista ou proporcionar o pleno desenvolvimento intelectual dos novos ocupantes dos bancos escolares. Antes de qualquer coisa, tratava-se de garantir a formação de trabalhadores minimamente letrados, que tivessem domínio das operações matemáticas simples e da leitura/escrita em nível inicial. Ou seja, o capitalismo brasileiro necessitava que as classes trabalhadoras se apropriassem de habilidades intelectuais básicas para incrementar o processo produtivo, o que não significava o incentivo à reflexão e a compreensão crítica do mundo.