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O então jovem educador Paulo Freire
O então jovem educador Paulo Freire

Golpe e perseguição aos líderes da educação brasileira

Golpe e perseguição aos líderes da educação brasileira

O golpe civil-militar de 1964 perseguiu, sistemática e violentamente, os educadores cujo pensamento e ação julgavam subversivos e contrários aos alegados “interesses nacionais”. O governo imposto pelas armas atingiu, logo de início, estes três grandes educadores brasileiros: Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira Paulo Freire.

Antropólogo e educador, Darcy Ribeiro foi ministro da educação e cultura do governo João Goulart (1962 e 1963) e também chefe da casa civil (1963 até o golpe). Era um militante pela educação laica, pública e gratuita. Por isso, foi um dos primeiros alvos do golpe de 1964, com seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional n.1 (AI-1).
As ideias de Darcy Ribeiro se alinhavam às dos educadores mais empenhados na modernização e democratização da educação brasileira, participando da criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE). Os centros visavam promover pesquisas e diagnósticos sobre a realidade educacional brasileira e seus problemas locais, regionais e nacionais, com objetivo de fundamentar as reformas. Entre as propostas de Darcy, se destacaram os CIEPs (Centros Integrados de Ensino Público).

Logo após o golpe de 1964, Darcy exilou-se em Montevidéu com Jango. O exílio tornou-se confinamento em 1966, quando o Uruguai cedeu às pressões da ditadura brasileira e o impediu de deixar o país. Dois anos depois, retornou ao Rio de Janeiro e foi preso por “infringir a Lei de Segurança Nacional”, passando nove meses no cárcere. Ao ser solto, em 1969, exilou-se na Venezuela, passando também pelo Chile, onde trabalhou como assessor do governo do socialista Salvador Allende e também no governo do general Velasco Alvarado em Lima, Peru.

Outro importante educador do período pré-golpe foi Anísio Teixeira. Na sua trajetória, foi secretário de educação do Estado da Bahia e do Rio de Janeiro, coordenador da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior) e diretor do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que hoje leva seu nome. Desde sua participação no movimento da “Escola Nova”, preocupava-se em não “copiar modelos” nem romantizar sua tarefa, desenvolvendo propostas originais e concretas para resolver os problemas educacionais brasileiros, tais como a Escola Parque da Bahia e o próprio CBPE.

Anísio e Darcy foram idealizadores da Universidade de Brasília (UnB), inaugurada em 1960, com a expectativa de articular ensino, pesquisa e extensão, e democratizar a política universitária, com eleições para cargos diretivos. Em 1965, porém, sob a ditadura civil-militar, a universidade sofreu intervenção, Anísio Teixeira foi destituído do cargo de reitor e a experiência da UnB foi interrompida.

Logo no começo da ditadura, o professor Anísio Teixeira foi destituído de todos os seus cargos. Também teve os seus direitos políticos cassados pelo AI-1. Tragicamente, em março de 1971 foi encontrado morto no fosso de um elevador em circunstâncias consideradas obscuras. Embora o laudo da perícia tenha apontado morte acidental, há suspeitas de que tenha sido vítima das forças de repressão do governo Médici.

A ditadura interrompeu também as experiências de alfabetização de adultos de Paulo Freire, coordenador do Programa Nacional de Alfabetização (1964), cujas principais inovações eram a substituição das cartilhas e livros-texto por um trabalho pedagógico com “palavras geradoras”, extraídas da linguagem corrente dos grupos locais e com a ênfase na relação dialógica com as experiências de vida dos professores, estudantes e familiares.

Com isso, Freire propunha trazer a leitura e a escrita para o universo pessoal de cada educando, tendo como objetivo a apropriação crítica das suas reais condições de vida. Sua proposta de Educação Popular baseava-se na ideia de que o conhecimento deveria ser emancipador. A educação do povo abriria caminhos para luta social contra as desigualdades culturais e econômicas, pois a população mais pobre poderia libertar suas capacidades políticas mais criativas através do conhecimento. Dizia que “a educação sozinha não muda a sociedade, mas sem ela tampouco a sociedade muda”. No lugar dos programas desenvolvidos por Freire, porém, a ditadura impôs a Reforma Universitária (Lei 5.440/68) e o sistema Mobral, substituindo o método freireano por técnicas tradicionais de alfabetização.
Paulo Freire teve destino semelhante ao dos perseguidos políticos: indiciado em Inquérito Policial Militar, exilou-se sucessivamente na Bolívia, Chile, Estados Unidos e Suíça, retornando ao Brasil somente em 1979. O manuscrito de uma de suas principais obras, “Pedagogia do Oprimido”, só foi preservado devido à ação cuidadosa do seu amigo chileno Jacques Chonchol, que levou o texto original consigo para seu exílio na Europa.

Tanto a perseguição desses educadores, como a interrupção abrupta de projetos voltados à uma reforma popular e democrática do ensino eram um prenúncio dos tempos sombrios que a educação brasileira viveria sob a ditadura.

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