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A ditadura e o mercado editorial

A ditadura e o mercado editorial

O mercado editorial de livros sofreu grandes mudanças após 1964. Do ponto de vista econômico, a produção de livros atravessou forte crescimento, houve uma importante modernização técnica e o estímulo à concentração do mercado nas mãos de grandes grupos editoriais, especialmente beneficiados pelo regime militar. Ao mesmo tempo, as editoras pequenas foram prejudicadas por não receberem as mesmas facilidades e, em alguns casos, sofrerem perseguição política.

O crescimento da produção de livros foi sustentado pelo aumento do número de estudantes no país, pelos programas oficiais de apoio ao setor gráfico e pelas grandes compras e distribuição de livros escolares feitas pelo Estado. O aumento da classe média leitora ampliou diferentes nichos de vendas, como livros escolares, universitários, técnico-profissionais, manuais e de entretenimento.
A ditadura favoreceu alguns grupos da indústria editorial com isenção de impostos na produção e venda de livros. Também estimulou a produção nacional de papel e celulose. Entre 1960 e 1980 a indústria de papel praticamente quintuplicou sua capacidade produtiva e o Brasil saiu da posição de importador para a de exportador de papel.

Os militares criaram programas de compra de livros didáticos em larga escala, era uma forma ambígua de incentivar e, ao mesmo tempo, controlar o setor editorial. Dentro do acordo MEC-USAID, em outubro de 1966, foi criada a Comissão Nacional do Livro Técnico e Didático (COLTED) que, em apenas três anos, prometia fornecer 51 milhões de livros às escolas públicas brasileiras. Por conta disso, entre 1966 e 1980, a produção de livros didáticos quadruplicou, alcançando 100,2 milhões de exemplares. O volume de compras governamentais era enorme, refletindo a expansão do sistema de ensino marcada pelo controle ideológico.

Outra política que afetou fortemente o mercado editorial foi o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), cujo objetivo era diminuir o analfabetismo e adequar a instrução das classes trabalhadoras às necessidades da modernização capitalista. Todo o material impresso do programa foi encomendado a apenas duas editoras: José Olympio e Abril. Era uma forma de beneficiar grupos empresariais que apoiassem o governo e, ao mesmo tempo, manter o controle dos conteúdos. Somente em 1970, o Mobral encomendou a estas editoras cerca de 50 milhões de livros. Ao contrário do que propunha Paulo Freire, o método de alfabetização do Mobral era tecnicista e tradicional.

Em 1970, foi realizada a I Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que contou com a participação de 23 países. Durante a ditadura, os mercados editoriais que tiveram maior expansão foram os de livros religiosos (crescimento de 285%), os de literatura (de 155%) e os didáticos (de 74%). Apesar de continuar com taxas de analfabetismo alarmantes, o Brasil tornou-se o maior produtor de livros da América Latina no começo dos anos 1970.

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