Boa parte dos livros censurados não foi objeto de uma análise detalhada por parte das autoridades. Muitas vezes, o que determinava a censura ou a apreensão era o tema abordado ou o autor da obra. Um bom exemplo da pouca importância dada ao detalhamento das justificativas da censura é um informe do Ministério do Exército, de 15 de dezembro de 1975, que apresentou uma lista de “duzentos e cinco livros de cunho subversivo ou pornográfico, proibidos por determinação do Sr. Ministro da Justiça, com base na legislação em vigor”. Ou seja, 205 livros foram declarados proibidos com uma única canetada e uma justificativa genérica.
Mas também houve casos em que os livros foram analisados individualmente. Confira abaixo alguns pareceres de censores indicando proibição de obras:
A mulher na construção do mundo futuro, de Rose Marie Muraro: “um incitamento à subversão da ordem político-social do país”, devendo ser tomadas “medidas que evitem a proliferação de tais ideias”.
Sobre Autoritarismo e democratização, de Fernando Henrique Cardoso: a obra faria “doutrinação comunista, de massificação”, demonstrando “sua bitolagem aos dogmas marxistas, manipulando fatos históricos”.
A paranoica, de Cassandra Rios: “as descrições dos atos sexuais são feitas nos seus mínimos detalhes, há homossexualismo, violência e o conteúdo do livro é deprimente”.
O sótão e o rés-do-chão ou Soninha toda pura, de José Ilcemar Ferreira: “Impressão final: Péssima; Diálogos: Pornográficos e picantes; […] Conclusão: […] concluo pela interdição […] texto completamente repleto de pornografias e diálogos picantes, e ainda, com enredo contrário à decência e o decoro público”.
A farsa do bode expiatório, de Luiz Maranhão Filho: “trata-se de uma tentativa de levar a revolução [o golpe de 1964] ao descrédito, através de insinuações de que no Brasil não há liberdade”.
Este último parecer é uma peça representativa da hipocrisia do regime: para provar que sim, havia liberdade no Brasil, o censor sugere a proibição da obra.