A deterioração da qualidade da educação pública fomentava o desenvolvimento da rede privada de ensino, espaço ocupado historicamente pela Igreja Católica, mas que se abria, com a ditadura, para uma maior participação do empresariado laico. Em busca de uma escola de “melhor qualidade” para seus filhos, as camadas médias e as elites, antes beneficiárias dos sistemas públicos de ensino, começaram a buscar as escolas privadas.
A formação escolar numa “boa escola privada” geralmente assegurava o treinamento dos alunos para o vestibular. Isso garantia que a maioria das vagas nas universidades públicas, especialmente das carreiras mais concorridas, fosse ocupada por camadas sociais mais endinheiradas. Não se tratava, portanto, de uma escola privada cuja ênfase fosse o desenvolvimento intelectual autônomo e crítico dos estudantes. Nesse sentido, a escola privada também prosperou devido a uma mudança de valores sobre a educação, alimentada pela precarização da escola pública e pelo pragmatismo dos vestibulares.
O enaltecimento da escola particular em detrimento da escola pública representava uma inversão do sistema educacional anterior. Antes de 1964, a escola pública era considerada de maior qualidade e muito disputada. Para conquistar uma vaga, as crianças se preparavam em cursinhos e prestavam os chamados “exames de admissão” ou “vestibulinhos”. Mesmo assim, muitos ficavam de fora, pois as vagas eram limitadas. Nesse contexto, a escola privada era percebida como um simples atalho para obtenção de diplomas fáceis. Era um desprestígio cursar uma escola particular. Não por acaso, antes da ditadura as escolas particulares eram chamadas de PPP – “papai pagou, passou”.
A política educacional do regime militar foi responsável por inverter essa percepção, fazendo das escolas particulares lugares elitistas e prestigiados, e das escolas públicas, o espaço educacional deteriorado das classes trabalhadoras. Até hoje o mito da “escola particular de qualidade” está presente no Brasil, ampliando seus “clientes”, com base em uma construção ideológica gestada durante a ditadura.
Nesse processo, tanto as escolas públicas quanto as particulares foram afetadas por uma série de imposições do governo sobre o cotidiano pedagógico, trazendo a perseguição, a vigilância e a obediência militarista para dentro das instituições de ensino.