Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, em 2003, houve uma grande expectativa em torno do avanço da Reforma Agrária e da consolidação de um projeto amplo de assentamentos rurais. Porém, esta perspectiva foi se reduzindo ao passo que o governo Lula optou por um projeto de conciliação de classe que, em suma, incluía setores ligados ao agronegócio e às grandes empresas agrícolas, de capital nacional e internacional.
Este percurso gerou insatisfação nos movimentos sociais e sindicais do campo, pois além de conciliador, o governo aprofundou uma nova perspectiva econômica e retirou a centralidade de suas ações políticas que garantissem as reformas estruturais, dentre elas a Reforma Agrária, determinantes para superar a histórica exploração da força de trabalho, em especial do trabalhador camponês. Essa nova perspectiva econômica chama-se neodesenvolvimento, que tem por característica a composição de setores antagônicos em um mesmo governo, com distribuição de renda e investimento em políticas sociais para um conjunto determinado da população e, ao mesmo tempo, garante altos investimentos econômicos e vantagens políticas para setores industriais, bancos e empresas multinacionais.
Em termos de avanço das reformas estruturais, veio a estagnação, ampliando contradições. Ao mesmo tempo em que solucionou, em parte, problemas crônicos dos antigos assentamentos, como acesso a infraestrutura e condições básicas de moradia e produtividade, não concretizou a Reforma Agrária com distribuição de terras. Por outro lado, garantiu altos investimentos econômicos e tecnológicos para o agronegócio e suas empresas relacionadas. Esta situação abalou a relação dos movimentos sociais, gerando sérios conflitos no campo brasileiro, elevando o número de ocupações de latifúndios improdutivos e endividados e, da mesma forma, centrando parte das lutas em órgãos públicos responsáveis pelas políticas de Reforma Agrária.