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Manifestação do Movimento Negro Unificado na Bahia
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Movimento de mulheres negras e a redemocratização do Brasil

Movimento de mulheres negras e a redemocratização do Brasil

As mulheres negras sempre tiveram participação no movimento negro, a exemplo de sua atuação no ativismo feminino na Frente Negra Brasileira e também nas atuações das mulheres no Teatro Experimental do Negro. Contudo, elas encontravam grandes dificuldades para ocupar posições dirigentes nas organizações políticas negras, mesmo que as presenças delas nos ciclos de insurgência do movimento fossem significativas.

Tal realidade se modificou consideravelmente quando romperam com essa lógica desigual e buscaram outras formas de enfrentamentos da dominação masculina. A ruptura aconteceu de forma singular durante os anos de 1980, com a construção de coletivos e associações políticas próprias. Porém, antes da formação de organizações de mulheres negras, esboçou-se um pensamento crítico às relações sociais que invisibilizavam o papel delas na sociedade.

Beatriz Nascimento (1942-1995) e Lélia Gonzalez (1945-1994) foram duas intelectuais que refletiram sobre os efeitos do racismo na população negra de modo amplo, considerando seus impactos singulares sobre as mulheres. Nascimento deu grandes contribuições para se repensar o quilombo, não apenas na história da escravidão, como também na resistência contemporânea assinalando os problemas enfrentados pelo negro ao reconstituir sua identidade. Lélia Gonzalez também questionava a democracia racial. Para ela, era uma ideologia nacional que relegava às mulheres negras a papéis sexuais, laborais e maternais, herdados do passado escravista. A representação da mucama, mãe preta e a ama de leite foi transposta para as imagens contemporâneas das mulatas, das empregadas domésticas e das babás, respectivamente. Defendia que ser negra no Brasil, era ser objeto de tripla discriminação: a racial, a de classe e a de gênero.

O movimento se fortaleceu ao longo dos anos 1980. Um dos destaques desta década é a publicação do Jornal Nzinga, que tratava tanto do feminismo quanto do antirracismo, ressaltando a situação das mulheres negras e seus dilemas nas periferias e morros cariocas. Abordava a intersecção das categorias de raça, classe e gênero na produção das desigualdades e opressões sociais.

Com a articulação e mobilização nessa época, foi realizado, em 1988, o Primeiro Encontro Nacional de Mulheres Negras, no Estado do Rio de Janeiro. O evento foi precedido de vários encontros regionais, com a participação dessas ativistas em congressos nacionais e internacionais feministas e antirracistas, muitos deles promovidos pela ONU. O fortalecimento desses movimentos foi fundamental para a luta das mulheres negras pela cidadania, em várias partes do país e seu papel ainda é notável até hoje.

É possível perceber o impacto do movimento criado no contexto das lutas contra a ditadura militar nas organizações de mulheres negras presentes nos espaços públicos nacionais, a influência desse ativismo nos coletivos de jovens feministas negras ou mesmo no ativismo digital, como no caso das influenciadoras e blogueiras, além dos movimentos de empoderamento estético.

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