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Movimento negro e a resistência política

Movimento negro e a resistência política

O movimento negro contemporâneo nasceu da resistência à ditadura militar. Esta mobilização antirracista resultou da organização de jovens negros que se formaram em diferentes espaços de resistência ao regime, como universidades, clubes e associações culturais negras, instituições religiosas, sindicatos, centros estudantis, redações da imprensa alternativa e organizações partidárias. Tal juventude questionava os alicerces da identidade nacional, conspirava contra o mito da democracia racial, contra o nacionalismo político que tornava cúmplice do racismo estrutural brasileiro o Estado e a sociedade civil.

A militância negra formou-se na rede de organizações e movimentos sociais contestadores da ordem militar. Dessa efervescência política, surgiu o Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial, originariamente composto por negros e outras minorias políticas (como judeus, gays e mulheres), apresentado na esfera pública como entidade “guarda-chuva” das lutas contra o racismo.

Em consonância com as lutas de libertação dos países africanos e de direitos civis, a geração ativista de 1970, que esteve na formação do movimento negro brasileiro, construiu sua identidade coletiva embalada pela Soul Music, deixando nos armários as roupas de cores básicas para apresentarem às ruas um novo visual, cada vez mais colorido. Na cabeça, penteados à moda Black Power dispensavam as perucas e as pastas de alisar cabelos, típicos dos “anos dourados”. No caso das mulheres, as maquiagens clareadoras da pele davam lugar às cores vigorosas, em particular rosa e vermelho nos lábios, contornos da contracultura. O movimento, antes de se apresentar na cena pública como articulação de combate ao preconceito e às desigualdades raciais, encenava uma estética radical para o protesto.

Destacavam-se expressivos intelectuais negros, como a historiadora Beatriz Nascimento, o sociólogo Eduardo Oliveira, a cientista social Lélia Gonzalez, o historiador Joel Rufino e o jornalista Hamilton Cardoso, que se somaram às vozes importantes que denunciavam o racismo dentro e fora do país, como Clóvis Moura, Solano Trindade, Abdias Nascimento, José Correia Leite, dentre outros.

As ideias do movimento negro foram divulgadas e debatidas em importantes veículos da imprensa negra, como Árvore das Palavras (1974) e a coluna Afrolatinoamerica, em São Paulo; Tição (1978), no Rio Grande do Sul; Sinba (1976), no Rio de Janeiro e o Jornal Nêgo (1981), na Bahia. Estes periódicos são exemplos de uma das formas mais importantes de discussão dos casos de discriminação racial, do combate ao preconceito racial e as imagens estereotipadas e coloniais sobre a população negra, suas culturas e religiosidades. Uma das pautas mais importantes para essa imprensa já era a violência racial contra a população negra, a perseguição policial e as mortes de jovens e trabalhadores negros nos grandes centros urbanos.

Assim, o movimento negro esteve presente no conjunto das lutas contra a ditadura militar e em favor da democratização. Por suas pautas de denúncia das injustiças raciais, foi vigiado sistematicamente por agentes do Estado. Isso não impediu, no entanto, que o movimento se nacionalizasse e ganhasse diferentes formas de atuação política, das expressões culturais e religiosas, às entidades exclusivamente políticas, passando por diversas experiências de politização da cultura por meio do teatro, do cinema, das manifestações das culturas populares, como o samba, os afoxés, os blocos afro, o hip hop, dentre outros. Aos poucos, o movimento atingiu a grande parcela da população, fato que tornou o Brasil o país de maior presença negra fora da África. Os brasileiros passaram a rever seu papel na sociedade e suas identificações graças aos movimentos de valorização das origens étnico-raciais e das constantes lutas pela igualdade entre negros e brancos.

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