Os traumas causados pela violência de Estado no período da ditadura militar, entre os anos de 1964 e 1985, produziram um sofrimento que deve ser encarado como questão de saúde pública, além de uma pauta de Memória, Verdade e Justiça. Seus efeitos podem aparecer em um âmbito pessoal, na dificuldade de manter relações, no sono prejudicado por pesadelos e pela insônia, na falta de estabilidade emocional, entre outras consequências que ficam como marcas da violência.
O sofrimento que essas marcas produzem alcança um aspecto intergeracional, afetando laços familiares de perseguidos políticos pelo regime. Aparecem também em âmbito social, uma vez que marcaram na sociedade brasileira um longo período de silenciamento e tentativas de esquecimento das vítimas afetadas por graves violações de direitos humanos. Tal silenciamento e sistemático esquecimento devem ser entendidos como um sintoma da sociedade brasileira, cujo Estado mantém um modo de funcionamento que reproduz muitos elementos de exclusão social de negros, indígenas, mulheres, e outros grupos subjugados.
Com isso, a reparação psíquica é fundamental, tanto em um aspecto individual quanto em um aspecto coletivo, para o tratamento e reparação das marcas de todas essas violências passadas e perpetuadas. Assim, a pauta foi incluída como política pública a partir do projeto Clínicas do Testemunho da Comissão de Anistia, sendo um desdobramento da luta de muitos anos pela Memória, Verdade e Justiça sustentada pelas vítimas da ditadura, incluindo movimentos sociais e familiares de pessoas mortas e desaparecidas durante o regime militar.